sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Missão: CCIE Voice

Como prometi no post anterior, vou comentar um pouco sobre como foi a minha preparação para o CCIE. Quando eu estava começando, lia blogs e blogs sobre pessoas postando as suas experiencias, estratégias, métodos de estudo. E é exatamente o que farei agora. E o primeiro conselho que dou é: não siga as estratégias alheias! hehehe
Então o que vou escrever aqui não necessariamente se aplica a você. Leia sim posts sobre pessoas relatando a sua saga, mas não tome uma como um caminho ideal a seguir, mas sim pegue o melhor de cada uma para montar o seu próprio caminho. Cada pessoa é cada pessoa, e você tem que descobrir como é a sua melhor forma de trilhar o percurso, conciliando trabalho, vida pessoal e estudo.

Senta que lá vem história . . .


Bom, antes de começar o CCIE, você tem que ter ciência se vai poder terminá-lo. Não adianta nada comprar equipamentos e materiais de estudo, no impulso do momento, sendo que não vai ter tempo de estudar, não vai querer se sacrificar um pouco, e principalmente, não vai ter grana.
O material é caro, e mais caro que isso são as tentativas. Estime mais ou menos 7 mil reais por tentativa (1.500 dolares da prova, 1.500 dolares da passagem e uns 500 dolares com gastos de hotel, alimentação e taxi, sem muito luxo). E saiba que as chances de passar na primeira são virtualmente 0. Claro, pode ser que você seja uma exceção, mas não conte com isso ao estimar os seus gastos. A média de aprovação no CCIE Voice, se não me engano, é de 3,6 tentativas. Então tenha dinheiro para pelo menos umas 3 ou 4 (21 a 28k reais). Se passar de primeira ou segunda, lucro seu, e você vai lá se acabar na Best Buy quando passar! hehehe
Quanto aos materiais de estudo, eu usei os da IP Expert. Recomendo que ache um parceiro de estudo para rachar, senão fica muito caro (não me lembro o valor, e deve ter mudado também). E caso você não tenha um lab completo em casa, vai precisar de alugar lab remoto na ProctorLabs (ou outra empresa). Apesar do custo alto, recomendo que alugue o rack, e não passe muito tempo tentando montar o seu completo. Cada sessão de 8 horas custa 25 dolares (mas fique de olho nas promoções que eles lançam toda hora). No meu caso, usei cerca de 70 sessões. Para o lab remoto você vai precisar de ter pelo menos 3 telefones 7965/7970/7975 (de preferência 4, mas se não conseguir, pode usar 1 IP Communicator), 1 telefone 7960 para a PSTN, 1 switch PoE e um roteador para fechar a VPN (a lista de modelos suportados estão no site da Proctor Labs. Mas num adianta pegar um pau véio 2600 que num vai rolar).
Por isso que um apoio da empresa é sempre muito bem vindo... bancar o CCIE do próprio bolso é insano! Então a primeira coisa que você deve fazer quando decidir entrar nessa é ver no que a sua empresa pode te ajudar (inclusive com tempo de estudo, senão também num adianta nada).

Com a grana reservada, diposição para se sacrificar e tempo, é hora de começar! Eu comecei a minha jornada em Dezembro do ano passado, aproveitando que o movimento no trabalho estava mais tranquilo. Nas horas que conseguia, ficava assistindo aos vídeos do Internetwork Expert (acho que foi o único material do INE que eu usei, pois eu tinha uma conta que havia rachado com uns amigos). Os vídeos foram um ótimo começo para mim... bem tranquilo, estudava quando dava, onde dava, sem muita pressão. Quando tinha um tempo, me aprofundava em alguns tópicos lendo os Guides da Cisco ou fazendo testes nas minhas VMs em casa... E comecei a escutar no carro também os Audio on Demand da IP Expert, da ex-instrutora Amy Ryan. Esses áudios são bem tranquilos de ouvir, bem fáceis de entender, e você acaba aproveitando um tempo que seria morto, como no trânsito. E a voz dela é bem agradável também! hehe
Isso durou mais ou menos dois meses. Nesse meio tempo eu comecei a escrever esse blog, o que foi muito bom para mim. Durante os estudos com os vídeos/guides, eu costumava tomar muita nota em um caderno. Foi aí que eu tive a ideia de começar a passar algumas dessas notas para o blog. Recomendo! Quando você escreve em blog, apesar de tomar muito do seu tempo, você é obrigado a pesquisar um pouco melhor aquilo, fazer uns testes para ver se o que você tá falando está certo, e me ajudou a fixar melhor alguns conceitos, como os de QoS, que foram os primeiros posts e nunca mais esqueci.

Ao término dos vídeos, acho que no final de janeiro, me bateu um certo desespero, porque tive que sair da zona de conforto e começar a pegar mais firme. Porque até então, assistir uns videozinhos com o cara explicando tudo para você é muito fácil! hehehe... Comecei então a estudar o Volume 1 dos Workbooks da IP Expert. Esse volume 1 são vários labs curtos, fáceis, e que dão mais a base de todo o negócio. Mas percebi que mais importante que praticar os labs, era você entender o conceito por trás de cada questão. Nesse momento, você não tem que se preocupar com estratégia de prova, velocidade e tal. Precisa entender o negócio. Mas entender mesmo, de cabo a rabo. Então o volume 1 serve mais como um guia de estudo... você tem que saber fazê-lo, mas a cada capítulo, você tem que se aprofundar mais no assunto. Um exemplo: Lab de gatekeeper. Não basta você configurar o gatekeeper e fazer 2 sites se falarem... tem que pensar: "ah, mas e se eu configurar 2 zones diferentes? e se eu fizer com uma zone só usando tech-prefix? e se eu usar VIA zone? E se eu configurar assim, como fica o meu output do sh gatekeeper endpoints? E se eu usar VIA, como fica o sh gatekeeper calls? Mas por que eu vejo 2 call legs?". Entende? É muito mais do que resolver uma questão. Então eu estudava o volume 1 junto com guides da Cisco, e no final eu não fiz nem se quer uma sessão de lab para esse workbook. Eu respondia tudo escrevendo mesmo, escrevendo script no caderno e tal. No máximo simulava alguma coisa no meu lab em casa, usando VMWare e GSN3, por exemplo os labs de RSVP, que eu nunca tinha configurado.
Ah, um detalhe importante sobre guides. Muitos dizem que você tem que ler o SRND e decorá-lo de ponta a ponta. Eu não concordo... você tem que ter uma noção do que tem nele e tal, mas eu não cheguei a ler o SRND. O que eu li de cabo a rabo, e recomendo fortemente é o feature guide do CUCM e o admin guide do CME. Esse último em especial é muito bom que leia e teste tudo, porque tem umas coisas de CME que eu pelo menos nunca nem tinha ouvido falar.

Bom, essa minha luta com o Volume 1 foi até maio, ou seja, 3 a 4 meses. Acho que foi o período que eu mais aprendi coisas novas, e que, consequentemente, o estudo mais fluiu. Nessa fase você fica super empolgado, eu ficava até de madrugada estudando (porque gosto mais de estudar a noite), finais de semana, feriados... e aí em Maio, quando acabei de estudar o volume 1 e todos os itens do Blueprint, e tirei 1 semana de "férias", e viajei para Fortaleza com a minha namorada! hehehe... dar aquela relaxada! =P
Voltei de lá na pegada de começar o Volume 2. A essa altura, eu já tinha marcado o meu Bootcamp para Julho, e a minha prova para Setembro. Eu sabia que tinha 2 meses para o bootcamp, e nesses 2 meses eu precisaria destruir o Volume 2, para chegar preparado no curso. Nessa época a Dimension Data me ajudou bastante, me dando todas as sextas-feiras livres para estudar. Então foram 2 meses estudando de sexta, sábado e domingo, e mais alguns dias de folga que acabei pegando. Até o dia 1 de julho eu tinha feito cada um dos 10 labs do volume 2 pelo menos 2 ou 3 vezes. Eu costumava dar uma lida em 2 labs durante a semana (de segunda a quinta), e sexta, sábado e domingo eu fazia eles. A cada lab eu ía aprendendo coisas novas, e procurava também me aprofundar em alguns pontos (se necessário) ao longo da semana seguinte. Foram 2 meses super intensos e cansativos. Mas eu ficava satisfeito quando conseguia terminar o lab dentro da sessão de 7h45min da ProctorLabs.O objetivo maior do Volume 2, para mim, é você definir uma estratégia sua. Tem gente que recomenda usar o Device-Based Approach (procure no youtube, vale a pena), tem gente que acha melhor fazer por tecnologia. Eu fiz meio que uma mescla dos dois... mas acho que estratégia é um ponto muito pessoal, e cada um tem que bolar a sua. Num existe uma receita de bolo. A Device-Based approach acho que é a mais eficiente mesmo, mas eu pelo menos não consigo fazer a prova usando ela. Tem gente que consegue... então depende muito.

Até que chegou Julho e eu fui para San Jose, fazer o Bootcamp. Posso dizer que o que mais me ajudou para a prova foi esse Bootcamp. Lá você fica 2 semanas completamente imerso naquilo, sendo instruído por um cara muito, muito foda que é o Vik Malhi. Aprendendo formas muito mais rápidas de configurar as coisas e tal. Na primeira semana do curso foi mais teoria, e a segunda era só lab. Se você pensa em fazer esse curso, aconselho que vá tecnicamente preparado... você tem que ir já com um conhecimento muito bom de cada vírgula do blueprint. Isso porque o instrutor não vai te pegar na mão e ensinar a configurar um Device Pool, por exemplo... ele vai te falar como é a forma mais rápida de configurar o Device Pool sem ter que resetar os telefones. Saca? É muito mais focado na prova em si.
Depois do Bootcamp eu peguei 1 mês de férias (mês de agosto inteiro) para estudar. Aí eu marquei labs de segunda a sábado, e descansava domingo. Confesso que na metade do mês já estava pedindo água! hahaha... não conseguia mais ver um Call Mananager na frente!!! hehehe... Tinha dia que eu começava a sessão e simplesmente não conseguia fazer nada, não conseguia mais pensar naquilo... Aí eu parava, dava uma descansada e depois retomava. Ou largava mão de fazer lab aquele dia, e estudava algum item do blueprint, ou fazia alguns testes de troubleshooting.

Chegando no dia da prova, num fatídico 6 de Setembro, estava muito nervoso. Em RTP a prova começa às 7h15, e o candidato deve chegar umas 7h. Então acordei às 5h para sair às 6h, e não consegui pregar os olhos antes das 3h! haha... Cheguei lá bem cansado, e isso me deu um certo desespero. Na entrada, quando os candidatos ficam sentados no sofá esperando o Proctor, fica um silêncio mortal, e esse momento acho que é o pior do dia. Ainda bem que fui com um amigo, e ficamos conversando, o que me ajudou a relaxar um pouco. O proctor David chegou, passou um briefing do dia, e começamos o lab. A adrenalina era tanta que o sono nem pesou. Então se você for e não conseguir dormir um dia antes, não se preocupe... você definitivamente não vai sentir sono e não vai estar menos concentrado por causa disso! hehehe
No lab eu senti algumas dificuldades. Por exemplo, o terminal que eles te disponibilizam não faz copy/paste com o botão direito do mouse, como no Putty. O atalho Windows + D para exibir o Desktop não funciona... então essas pequenas coisinhas que você está acostumado no seu home lab acabam atrapalhando. E outra coisa é o endereçamento IP, que é diferente dos labs da ProctorLabs também... mas de resto, o lab foi tranquilo. Não ocorreu nenhum bug na minha prova, e consegui terminar ela com bastante tempo para revisar. Saí de lá com a impressão que havia passado. Porém, no dia seguinte recebi o resultado e FAIL. Até hoje não sei exatamente onde perdi tantos pontos na prova...
Isso é bastante desanimador. Não tanto por não passar, mas sim por ter que voltar ao Brasil e começar tuuudo denovo. Chegando aqui, marquei a segunda tentativa para a data mais próxima que consegui, no dia 23 de outubro. E fiquei 2 semanas sem estudar absolutamente nada. Depois comecei a fazer uns labs nos finais de semana. Só nas duas semanas que antecederam a prova que a Dimension Data novamente me deu vários dias de folga, e pude ficar 14 dias estudando direto, para retomar a velocidade.
Embarquei para os EUA no dia 21, descansei dia 22 e fiz a prova no dia 23. Novamente, não consegui dormir muito bem na noite anterior, mas isso não me preocupou muito porque sabia que não me atrapalharia no exame. E foi a mesma coisa. Acordei cedo. Silêncio mortal. Proctor. E a prova começou. Dessa vez fiz o lab mais tranquilo... eu sabia que o Windows + D num ía funcionar, e que o jeito certo de dar copy/paste era com o Shift + Insert. Já sabia o esquema de endereçamento IP, já sabia como a prova era estruturada, como vinham as tabelas. Então nesse sentido, a segunda tentativa foi bem mais tranquila. Terminei a prova agora com a certeza que tinha passado... mas ainda assim estava receoso, porque você nunca sabe como a sua prova será corrigida.
Voltei para o hotel acabado de cansado. É engraçado porque quando você termina a prova, parece que tomou uma surra daquelas... fica com o corpo todo dolorido. Até as minhas pernas doíam como se eu tivesse corrido quilometros! Bem estranho... Mas nesse dia dormi cedão. E no dia seguinte fiquei no hotel a manhã toda apertando F5, esperando o resultado da prova! Passou 9h, 10h, 11h e nada, e foi batendo o desespero. Até que às 11h10 chegou o e-mail, e o meu coração foi parar no teto. Mas a minha cabeça soh explodiu mesmo quando vi o resultado de que havia passado!
É esse o momento mais foda, que você sente um peso gigantesco saindo das suas costas, e uma sensação de alívio absurda. É esse momento que te faz pensar que todo o sacrifício valeu a pena.

Se você está pensando seriamente em tirar o CCIE, e viu que tem condições e vontade de ir até o fim, cara... vá em frente! Vai que no final vale a pena!

Boa sorte!

7 comentários:

  1. Bruno,
    gostaria de deixar mais uma vez os parabéns pelo seu esforço nessa gigantesca conquista e pode ter certeza que seu estudo também ajudou (e ainda ajudará) muitos profissionais da nossa área, inclusive eu! Se possível não deixe de colaborar. Seu relato servirá como base para nossa preparação. Sucesso pra vc!
    btw: que família certificada, não é mesmo? hehehe
    abraço!

    ResponderExcluir
  2. Olá Bruno,

    Primeiramente parabéns pela certificação e segundo pelo ótimo relato no Blog, estou na preparação para a prova do LAB que irei fazer em Maio e Bootcamp em Abril deste ano e suas dicas foram ótimas e bem parecido com a estratégia que adotei para os estudos ! Se possível gostaria de manter contato com você para esclarecer algumas dúvida e pegar algumas dicas para a prova !

    Abraços,

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. E ai Evandro! Se quiser, pode entrar em contato comigo através o LinkedIn mesmo. O link para o meu perfil está no quadro da direita (Quem sou eu). Boa sorte aí!

      Excluir
  3. Seu blog está me ajudando bastante...obrigado mesmo.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Fico feliz por te ajudar, Vinicius! Desculpe a demora para responder, é que eu estava de férias. Vou ver se retomo o ânimo para novas postagens! :)
      Abs!!!

      Excluir
  4. Oi Bruno,

    estou comprando um bootcamp e como você já fez, gostaria de saber se você precisou de visto de estudante para fazer esse curso.
    Desde já agradeço.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Charles! Eu já tinha o visto B1/B2, e com ele já deu. Não sei se daria para entrar só com o de Turismo, mas acho que sim... Pergunta pra propria instituição (INE ou IPExpert), que eles devem saber. Abraços!

      Excluir